Artigos interessantes sobre dislexia

Dislexia - causas, sinais e curas


CARTILHA

EDUCAÇÃO ESPECIAL, DISLEXIA E GAFES LINGÜÍSTICAS

EDUCAÇÃO ESPECIAL, DISLEXIA E GAFES LINGÜÍSTICAS[1]


Vicente MARTINS[2]



ÍNDICE



1. Introdução

2. A Dislexia e a educação especial

3. A Dislexia e a delinqüência juvenil

4. A dislexia e a intervenção psicolingüística

5. A dislexia e o Projeto Genoma Humano

6. A dislexia e as gafes lingüísticas

7. Bibliografia





Resumo: O presente artigo, resultado de investigações sobre Lingüística Aplicada às Dificuldades de Aprendizagem relacionadas à Linguagem, traz aspectos importantes sobre conceito, características e diagnóstico da dislexia, transtorno do aprendizado de leitura





Palavras-chaves: leitura – dislexia – lectoescrita – Lingüística aplicada – Aprendizagem – Linguagem – Disgrafia – Disortografia – Projeto Genoma



1. Introdução



Estima-se que, no Brasil, cerca de 15 milhões de pessoas têm algum tipo de necessidade especial. As necessidades especiais podem ser de diversos tipos: mental, auditiva, visual, físico, conduta ou deficiências múltiplas. Deste universo, acredita-se que, pelo menos, noventa por cento das crianças, na educação básica, sofram com algum tipo de dificuldade de aprendizagem relacionada à linguagem: dislexia, disgrafia e disortografia. Entre elas, a dislexia é a de maior incidência e merece toda atenção por parte dos gestores de política educacional, especialmente a de educação especial.

A dislexia é a incapacidade parcial de a criança ler compreendendo o que se lê, apesar da inteligência normal, audição ou visão normais e de serem oriundas de lares adequados, isto é, que não passem privação de ordem doméstica ou cultural. Encontramos disléxicos em famílias ricas e pobres.

Enquanto as famílias ricas podem levar o filho a um psicólogo, neurologista ou psicopedagogo, uma criança, de família pobre, estudando em escola pública, tende a asseverar a dificuldade persistir com o transtornos de linguagem na fase adulta. Talvez, por essa razão, isto é, por uma questão de classe social, a dislexia seja uma doença da classe média, exatamente porque, temporão, os pais conseguem diagnosticar a dificuldade e partir para intervenções médicas e psicopedagógicas.



2. A Dislexia e a educação especial



No âmbito das instituições da Educação Básica, no Brasil, relatos de professores, especialmente os de línguas materna e estrangeira, registram situações em que crianças, aparentemente brilhantes e muito inteligentes, não podem ler, escrever nem têm boa ortografia para idade. Nos exames vestibulares, as comissões executivas descrevem casos "bizarros" (às vezes, motivo de chacotas) em que candidatos apresentam baixo nível de compreensão leitora ou a ortografia ainda é fonética (baseada na fala) e inconstante.

Assim, urge a realização de testes de leitura nas escolas públicas e privadas, desde cedo, de modo a diagnosticar e avaliar a dificuldade de leitura.

Por trás do fracasso escolar ou da evasão escolar, sempre há fortes indícios de dificuldades de aprendizagem relacionadas à linguagem. Nos casos de abandono escolar, em geral, também, verificamos crianças que deixam a escola por enfrentarem dificuldades de leitura e escrita.

A dispedagogia, isto é, o desconhecimento por parte dos professores, pais e gestores educacionais, do que é a dislexia e suas mazelas na vida das crianças e dos adultos também só piora a aprendizagem da leitura de seus alunos. Infelizmente, a legislação educacional (CF, LDB, resoluções etc) não trata as diversas necessidades especiais dos educandos de forma clara, objetiva, pragmática e programática. Sua omissão tem de certa forma dificultado ações governamentais por parte dos gestores, do professor ao secretário de educação.

A Constituição Federal ,ao tratar sobre a educação especial, diz: " O dever do estado com a educação será efetivado mediante a garantia de atendimento educacional especializada aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino"(Artigo 208, III, CF). E perguntaria ao leitor: uma criança, com dislexia, isto é, com dificuldade de ler bem, é um portador de deficiência? Claro que não. A Lei 9.394/96, a de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, apresenta uma melhor redação sobre a matéria. Diz assim: " O dever do estado com a educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino" (Art. 4º, LDB). Melhorou e, em muito, porque faz referências às necessidades especiais.

Chegamos, por dedução ou exegese jurídica, à conclusão de que a dislexia é uma necessidade especial. Mas qual a natureza dessa necessidade especial? Por exclusão, diríamos que uma criança com dislexia não é portadora de deficiência nem mental, física, auditiva, visual ou múltipla. O disléxico, também, não é uma criança de alto risco. Uma criança não é disléxica porque teve seu desenvolvimento comprometido em decorrência de fatores como gestação inadequada, alimentação imprópria ou nascimento prematuro. A dislexia tem um componente genético, exceto em caso de acidente cérebro-vascular (AVC).

Ser disléxico é condição humana. O disléxico pode, sim, ser um portador de alta habilidade. Daí, em geral, os disléxicos, serem talentosos na arte, música, teatro, deportes, mecânica, vendas, comércio, desenho, construção e engenharia. Não se descarta ainda que venha a ser um superdotado, com uma capacidade intelectual singular, criativo, produtivo e líder. O disléxico pode, também, ser um portador de conduta típica, com síndrome e quadro de ordem psicológica, neurológica e lingüística, de modo que sua síndrome compromete a aprendizagem eficaz e eficiente de leitura e escrita, mas não chega a comprometer seus ideais, idéias, talentos e sonhos. Por isso, diagnosticar, avaliar e tratar a dislexia, conhecer seu tipo, sua natureza, é um dever do Estado e da Sociedade e um direito de todas as famílias com crianças disléxicas em idade escolar.



3 . A Dislexia e a delinqüência juvenil



Uma dificuldade de leitura pode levar uma criança à delinqüência juvenil? Cremos que sim. Há uma relação muito estreita entre leitura e pensamento, entre leitura e atitude e mais estreita ainda é a relação entre rechaço e maus leitores, de que modo que as investigações recentes, na psicopedagogia e Lingüística Aplicada, apontam para um grau de contiguidade entre leitura e delinqüência juvenil.

O comportamento do delinqüente, no meio escolar, em geral está associado com alguma dificuldade de aprendizagem relacionada linguagem. As crianças com dificuldade parcial de ler bem, quase sempre, são alunos isolados, mas alunos que procuram superar suas limitações lingüísticas com comportamentos mais agressivos, rebeldes e violentos.

As notas baixas nas disciplinas escolas refletem muito as limitações cognitivas e lingüísticas dos maus leitores, mas a destreza no esporte, na arte, muitas vezes podem, doutra sorte, revelar um sentimento de rebeldia que pode perdurar na fase adulta. Não há aqui, intenção de estabelecer dicotomia ou maniqueísmo, todavia os maus leitores são potencialmente os alunos que mais oferecerão problemas de indisciplina ao setor psicopedagógico da escola.

Durante dois anos observamos e constatamos que as dificuldades de leitura e a delinqüência juvenil são tipos de problemas que caminham juntos e, portanto, exigem uma intervenção por parte dos agentes e autoridades educacionais. Uma política de leitura não apenas compensaria o déficit cultural dos alunos como também iria engajá-los no discurso da sociedade da informação.

Enquanto isso, sobra a difícil tarefa de domesticação de atitudes dos alunos por parte dos abnegados professores, em particular, os da rede pública de ensino, que se deparam hoje não apenas com dificuldades domésticas, materiais e pedagógicas nas salas de aula, mas têm , também, como tarefa árdua o enfrentamento da questão social a que a escola pública está inserta. Refiro-me à delinqüência juvenil revelada na gangs e nas brincadeiras violentas e agressivas no meio escolar.

Muitos alunos cometem atos anti-sociais não porque são pobres ou por passarem privação cultural, e sim, porque, estando nas escolas (sejam públicas ou não), não têm rendimento escolar e padecem com transtornos de linguagem como as dificuldades de ler e escrever bem e, conseqüentemente, têm baixo rendimento na avaliação escolar. Quanto mais a criança é inculta, mais propensa à violência por motivos frívolos e banais. Quanto mais a criança é arisca, mais tímida para os embates da vida.

Na minha rápida passagem pela rede estadual de ensino, tomei algumas providências iniciais para o trabalho com os alunos agressivos e com problemas de conduta: a primeira, conhecer seus pais e conhecendo sua família ter uma “etiologia” mais clara e definida da forma de intervenção pedagógica a tomar com relação ao educando; a segunda providência foi a de levar meu aluno à consciência de suas limitações cognitivas, de natureza secundária, e mostrar-lhes, por exemplo, que, através de uma boa orientação ou reeducação da leitura, poderiam mudar as próprias atitudes, ideais aspirações pessoais e, finalmente, promover através da leitura aquisição de conhecimentos e a integração social. Quanto mais a criança compreende ideologicamente o mundo mais se envolve com uma práxis da concidadania e se inquieta com as questões de ordem social.

Os alunos com dificuldades de leitura e, a cada tentativa, frustrados, são levados a gazear aulas e a freqüentar companhias indesejáveis. Um aluno que fracassa na leitura, fracassa também na hora de ler um problema na matemática ou na hora de fazer um exercício de gramática. Um aluno que fracassa na leitura não encontra sentido algum em ler um Machado de Assis ou ler os versos de um Camões que estão parafraseados na sua canção predileta de Legião Urbana. Um aluno que constantemente fracassa é empurrado de forma perversa para a delinqüência.

Uma última palavra: a privação da leitura interfere no desenvolvimento da personalidade dos alunos. Um aluno com deficiência de leitura é triste e deprimido, agressivo e angustiado, potencialmente um delinqüente.

Numa sociedade de informação, ler ou escrever bem é condição de superação da desigualdade social: se alguns duvidam da tese, eis a rede mundial de computadores revelando um mundo de novas ocupações fundadas na fluência verbal e na comunicação eficaz. Se desejarem, voltaremos ao assunto.



4. A dislexia e a intervenção psicolingüística


Nos últimos sete anos, venho desenvolvendo estudos sobre a contribuição da lingüística para o diagnóstico da dislexia e intervenção psicolingüística.

A dislexia é uma síndrome pouco conhecida e pouco diagnosticada por pais e educadores, especialmente os pedagogos e médicos, que se voltam ao desenvolvimento cognitivo das crianças na educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio)

A dislexia é uma perturbação ou transtorno ao nível de leitura. A criança disléxica é um mau leitor: é capaz de ler, mas não é capaz de entender eficientemente o que lê.

O que nos chama atenção, à primeira vista, é que uma criança disléxica é inteligente, habilidosa em tarefas manuais, mas persiste um quadro de dificuldade de leitura da educação infantil à educação superior.

Minha estimativa, por baixo, é a de que, no Brasil, pelo menos, 15 milhões crianças e jovens sofram com distúrbios de letras. Creio que a dislexia é a maior causa do baixo rendimento escolar. A dislexia é o principal fator de insucesso dos alunos nos exames de leitura, nacional e internacional.

A linguagem é fundamental para o sucesso escolar. Ela está presente em todas as disciplinas e todos os professores são potencialmente professores de linguagem, porque utilizam a língua materna como instrumento de transmissão de informações.

Muitas vezes uma dificuldade no ensino da matemática está relacionada à compreensão do enunciado do que ao processo operatório da solução do problema.

Os disléxicos, em geral, sofrem com a discalculia (dificuldade de calcular) porque encontram dificuldade de compreender os enunciados das questões.

É necessário que diagnóstico da dislexia seja precoce, isto é, os pais e educadores se preocupem em encontrar indícios de dislexia em crianças aparentemente normais, já nos primeiros anos de educação infantil, envolvendo as crianças de 4 a 5 anos de idade.

Quando não se diagnostica a dislexia, ainda na educação infantil, os distúrbios de letras podem levar crianças de 8 a 9, no ensino fundamental, a apresentar perturbações de ordem emocional, efetiva e lingüística.

Uma criança disléxica encontra dificuldade de lê e as frustrações acumuladas podem conduzir a comportamentos anti-sociais, à agressividade e a uma situação de marginalização progressiva.

Os pais, professores e educadores devem estar atentar a dois importantes indicadores para o diagnóstico precoce da dislexia: a história pessoal do aluno e as suas manifestações lingüísticas nas aulas de leitura e escrita.
Quando os professores se depararem com crianças inteligentes, saudáveis, mas com dificuldade de ler e entender o que lê, devem investigar imediatamente se há existência de casos de dislexia na família. A história pessoal de um disléxico, geralmente, traz traços comuns como o atraso na aquisição da linguagem, atrasos na locomoção e problemas de dominância lateral.

Os dados históricos de dificuldades na família e na escola poderão ser de grande utilidade para profissionais como psicólogos, psicopedagogos e neuropsicólogos que atuam no processo de reeducação lingüística das crianças disléxicas.

No plano da linguagem, os disléxicos fazem confusão entre letras, sílabas ou palavras com diferenças sutis de grafia como "a-o", "e-d", "h-n" e "e-d", por exemplo.

As crianças disléxicas apresentam uma caligrafia muito defeituosa, verificando-se irregularidade do desenho das letras, denotando, assim, perda de concentração e de fluidez de raciocínio.

As crianças disléxicas apresentam confusão com letras com grafia similar, mas com diferente orientação no espaço como " b-d". "d-p", "b-q", "d-b", "d-p", "d-q", "n-u" e "a-e". A dificuldade pode ser ainda para letras que possuem um ponto de articulação comum e cujos sons são acusticamente próximos: "d-t" e "c-q", por exemplo.

Na lista de dificuldades dos disléxicos, para o diagnóstico precoce dos distúrbios de letras, educadores, professores e pais devem ter atenção para as inversões de sílabas ou palavras como "sol-los", "som-mos" bem como a adição ou omissão de sons como "casa-casaco", repetição de sílabas, salto de linhas e soletração defeituosa de palavras.

Por fim, com os novos recursos da sociedade informática, pais e educadores devem redobrar os cuidados. O mau uso do computador, por exemplo, pode levar a criança a ter algum distúrbio de letras. Até agora, não há estudos científicos sobre o assunto, mas, pelo relato de pais e professores, dirigidos ao meu site (http://sites.uol.com.br/vicente.martins), na Internet, revelam que posições pouco ergonômicas perante a um computador, pode comprometer o sistema perceptivo da criança, levando à dificuldade de leitura e escrita.



5. A dislexia e o Projeto Genoma Humano



A dislexia é um problema que se detecta em crianças que sofrem dificuldades de leitura. Os testes psicopedagógicos, com uma relativa precisão, diagnosticam as dificuldades de aprendizagem relacionadas à linguagem. Todavia, qual a origem da dislexia ou das dislexias? Os maus leitores são conseqüências de maus métodos do ensino da leitura? A dislexia é hereditária?

Há uma lista interminável de causas atribuídas à dislexia. Psicólogos, oftalmologistas, neurologistas, neuropsicólogos, pediatras, pedagogos, psicopedagogos, lingüistas, neurolingüistas e psicolingüistas, todos têm uma explicação ou uma etiologia da dislexia, apontando, entre outros fatores, problemas sócio-efetivos, visuais, auditivos, motores, neurológicos, fonológicos e, agora, com o Projeto Genoma Humano, geneticistas europeus acreditam que as alterações cromossômicas estão associadas ao transtorno da leitura.

Como lingüista, tenho uma forte inclinação para considerar que as dificuldades de leitura são problemas de consciência fonológica das crianças, na educação infantil e no processo de alfabetização escolar, indicando o déficit lingüístico como a principal causa da dislexia.

Minha investigação sobre o assunto, nos últimos sete anos, revela que a incapacidade do reconhecimento dos fonemas e letras é um componente que pesa muito na hora de a criança ler e compreender o que lê ou no simples ato lingüístico de soletrar palavras. Sem embargo, confesso que me rendo às recentes descobertas dos quatro genes ligados à dislexia.

Chega-nos, através da revista britânica Journal Of Medical Genetics, a informação de que são quatro os genes de suscetibilidade à dislexia: o DYX1, o DYX2, o DYX3 e o DYX4. Observem que determino cada gene, antepondo o artigo definido em todos os símbolos genéticos, o que significa que já foram localizados e mapeados pelos pesquisadores. São genes em diferentes posições, o que nos leva a suspeitar do caráter heterogêneo dos transtornos de leitura.

O gene de descoberta mais recente é o DYX3, do cromossomo 2, que vem merecendo especial atenção dos estudiosos na área de Linguagem, especialmente os neurolingüistas e psicolingüistas, por ser resultado de uma pesquisa levada a cabo pelo doutor Toril Fagerheim, do Hospital Universitário de Tromsoe, na Noruega. O doutor Fagerheim coordenou uma equipe multinacional de médicos e descobriu o gene DYX3 após estudar 36 membros de uma família noruega com antecedentes de dislexia.

O segundo passo agora é clonagem dos genes. Clonando o gene DYX3, os geneticistas poderão demonstrar a natureza e a freqüência dos genes envolvidos nas alterações de leitura e linguagem.

A descoberta do gene e de seu funcionamento é de extrema importância para a pedagogia da leitura. Uma vez sendo identificado um gene ligado à dislexia, na criança em idade escolar, provavelmente não poderemos, ainda, oferecer uma cura, não obstante, para a pediatria ou neurologia a intervenção médica será reorientada e os professores, por sua vez, poderão intervir pedagogicamente, isto é, de forma mais individual, precisa e eficaz, no processo de aprendizagem da leitura.

Certo é que os pesquisadores do Projeto Genoma Humano descobrem, a cada momento, que não existem mais dúvidas de que componentes genéticos estão envolvidos com os transtornos de leitura e escrita. Os médicos e os profissionais da educação escolar se rendem também à biotecnologia.

Uma outra pesquisa, não menos importante do que a de Toril Fagerheim, está sendo feita pelo neuropsicólogo Frank Wood, da Universidade de Forest Wake, e revela que outros cromossomos (6, 1,2 e 15) têm relações com a inabilidade de algumas crianças no processamento do texto.

Estas descobertas genômicas, no momento, levam-nos a especulações de diversas ordens. Uma delas é a implicação ética do fazer pedagógico. É bem provável que, no futuro, a identificação dos leitores será feita através de um microchip, que descreverá nossos defeitos e qualidades nas habilidades lingüísticas (leitura, escrita, fala e escuta).

Estamos aqui a esperar que a lingüística se transforme em uma biotecnolingüística(o neologismo é meu) em que a dificuldade de leitura não será mais chamada de dislexia e sim , simplesmente, desordem genética.



6. Dislexia e as gafes lingüísticas



O que pode ocorrer quando os pais e os docentes não diagnosticam a dislexia da criança ainda na fase escolar? O que ocorre com o adulto disléxico?

As recentes gafes lingüísticas do presidente Georg W. Bush Jr são evidências muito concretas de uma dislexia que se severa a cada ano, a cada evento, a cada nova circunstância política. Mais recentemente, em fevereiro de 2002, durante sua visita ao Japão, em entrevista coletiva conjunta com o primeiro-ministro japonês Junichiro Koizumi, Bush disse “desvalorização” em vez de “deflação”, o que acabou por provocar pânico no mercado de câmbios. Qual a origem dos lapsos de Bush Jr?

Os tropeços verbais de Bush não são de hoje. Ele é famoso por suas inumeráveis gafes lingüísticas em matéria de política internacional. Decerto, isso não ocorre somente por ignorância ou desinformação, mas por ser portador de dislexia. Durante sua campanha à Presidência dos EUA, seus lapsos gramaticais e, principalmente, ao inventar, nos discursos de improviso, palavras inusitadas e estranhas ao idioma inglês, tal comportamento lingüístico indicava, para os opositores, um despreparo para assumir a presidência dos EUA. Todavia, a dislexia de Bush, herança familiar, não compromete nem comprometeu, até agora, sua inteligência e capacidade de liderar o País.

Bush é um disléxico com visão de mundo, e ficará na história, não apenas pelos atentados de 11 de setembro, mas também como um homem que faz a auto-anulação de seus erros, ao admitir e rir dos lapsos de linguagem. Quando erra, quando troca letra ou palavra, não pensa em duas vezes para, em seguida, pedir desculpas ao interlocutor pela troca involuntária e dá um sorriso franco, próprio de quem aprendeu a vencer os próprios limites de linguagem verbal. O que acontece com Bush aconteceu com figuras proeminentes como Leonardo Da Vinci, William Butler Yeats, Albert Einstein e também o ex-governador de Nova York David Rockefeller.

Ao que tudo indica a dislexia de Bush é hereditária. O avô de George Bush Jr, Prescott Bush, era disléxico. As dificuldades de leitura também podem ser constatadas no seu irmão Neil, que já recebeu um diagnóstico de dislexia. Da família, Bush Jr, em que pese ter consciência do problema lingüístico, ainda não se submeteu aos testes de diagnóstico de dislexia. Sua mãe, Barbara, porém, tem participado de várias campanhas sobre o esclarecimento dessa síndrome e admite, publicamente, as dificuldade de leitura e de compreensão de textos nos demais membros da família.

No caso da troca de “deflação” por “desvalorização”, esta clara manifestação de comportamento disléxico recebe, no âmbito dos estudos sobre as dificuldades de leitura , o nome de paralexia verbal. A paralexia designa o comportamento de um paciente que substitui uma palavra por outra quando lê ou escreve.

O disléxico escuta bem, mas não pode processar rapidamente todos os sons de uma palavra. Desse modo, quando repete uma palavra que escutou o faz omitindo ou alterando o lugar ou contexto dos sons da palavra. Por isso, em geral, falta ao disléxico, a consciência fonológica.

Por ser um presidente de uma grande potência mundial, o comportamento disléxico de Bush tem sido desastroso não só para a sua própria imagem de estadista, objeto de muita chacota por parte de políticos e jornalistas do mundo inteiro, mas compromete, por vezes, a paz mundial, quando apresenta sinais de beligerância, cansaço, stress ou humor visceral, como os verificados na declaração de guerra ao Afeganistão.

Uma outra compreensão de sua dislexia pode nos levar a afirmar que suas dificuldades verbais revelam seu desconhecimento para tratar com a etnolingüistica do mundo ocidental e oriental, o que certamente, justificaria que, em muitos de seus discursos, chame “kosovarianos” aos kosovares, “grecianos” aos gregos, “timorianos” aos timorenses. Ou, ainda, que confunda, Eslováquia por Eslovenia e aos talibães com um grupo de rock.

Mais recentemente, termos como “ declaração de guerra” e “eixo do mal”, sem o peso da carga semântica que a mídia parece supor, indicam o risco, sempre iminente, de confronto mundial.

Em todo caso, consciente de suas limitações no plano da linguagem verbal, Bush Jr tem se comportado como um “ator de discurso memorizado” e tem procurado, outrossim, convencer seus eleitores de que pode ser Presidente não apenas com palavras, mas com gestos. Eis então a explicação porque um disléxico conseguiu chegar à Presidência dos EUA: desenvolveu a capacidade de gostar das pessoas, de ouvir e de estar sempre próximo do povo.



7. Bibliografia



1. CONDEMARÍN, Mabel, BLOMQUIST, Marlys. (1989). Dislexia: manual de leitura corretiva. Tradução de Ana Maria Netto Machado;;

2. DOCKRELL, Julie e MESHANC, John. (2000). Crianças com dificuldades de aprendizagem: uma abordagem cognitiva. Tradução de Andrea Negreda. Porto Alegre: Artes Médicas.

3. ELLIS, Andrew W. (1995). Leitura, escrita e dislexia: uma análise cognitiva. Tradução de Dayse Batista. Porto Alegre: Artes Médicas.

4. ESTIENNE, Françoise. Dislexias: descrição, avaliação, explicação e tratamento. Tradução de Cláudia Schilling. Porto Alegre: Artmed.

5. FONSECA, Vítor. (1995). Introdução às dificuldades de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas.

6. GARCÍA, Jesus Nicasio. (1998). Manual de dificuldades de aprendizagem: linguagem, leitura, escrita e matemática. Tradução de Jussara Haubert Rodrigues. Porto Alegre: Artes Médicas.

7. GERBER, Adele . (1996). Problemas de aprendizagem relacionados à linguagem: sua natureza e tratamento. Tradução de Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas. 362p.

8. GREGÓIRE, Jacques e PIÉRART, Bernardette. (1997). Avaliação dos problemas de leitura: os novos modelos teóricos e suas implicações diagnósticas. Tradução de Maria Regina Borges Osório. Porto Alegre: Artes Médicas.

9. HARRIS, Theodore L, HODGES, Richard E. (1999). Dicionário de alfabetização: vocabulário de leitura e escrita. Porto Alegre: Artes Médicas

10. HOUT, Anne Van, ESTIENNE, Françoise. (2001). Dislexias: descrição, avaliação, explicação e tratamento. Tradução de Cláudia Schilling. Porto Alegre: Artmed.

11. LECOURS, André Roch, PARENTE, Maria Alice de Mattos Pimenta (1997). Dislexia: implicações do sistema de escrita do português. Porto Alegre: Artes Médicas.

12. SISTO, Fermino Fernandes et ali. (orgs.). (2000). Atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar. Petrópolis, RJ: Vozes.

13. SMITH, Frank. (1999). Leitura significativa. Tradução de Beatriz Affonso Neves. Porto Alegre: Artes Médicas.












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[1] Este artigo resulta dos trabalhos de investigação do professor Vicente Martins, no âmbito da Lingüística Aplicada à Dislexiologia. A informação aqui apresentada não substitui a consulta de um médico ou profissional especializado. Para obter informações mais precisas e indicadas para um caso específico, os pais devem consultar o médico da família ou um especialista na área de distúrbios de linguagem (neurologista, psicólogo, psicopedagogo ou psicolingüista)



[2] Graduado e pós-graduado em Letras pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) com mestrado em educação pela Universidade Federal do Ceará(UFC). Professor de Lingüística e Leitura da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), de Sobral. E-mail: vicente.martins@uol.com.br


disponivel em http://www.educacaoonline.pro.br/gafes_linguisticas.asp

Falando mais sobre dislexia...

Dislexia
A ABD-Associação Brasileira de Dislexia, é constituída por pais e disléxicos
voluntários, que têm a preocupação de conscientizar educadores pais e a sociedade a
respeito da dislexia. Seu objetivo é tornar-se auto-sustentável e trabalhar com
parcerias para criar projetos educacionais, formação de profissionais e pesquisa. A
ABD coligada brasileira a IDA-International Dyslexia Association, é uma entidade sem
fins lucrativos.
A dislexia é definida como um déficit no desenvolvimento do reconhecimento e
compreensão dos textos escritos.
Este transtorno de aprendizagem na área da leitura não ocorre por deficiência
mental, nem pela escassa escolarização ou problema neurológico. Somente se
classifica como tal se houver uma alteração relevante do rendimento escolar ou da
vida cotidiana. E deve ser diagnosticada por uma equipe multidisciplinar.
A dislexia é a mais comum das dificuldades de aprendizagem. Segundo
pesquisas realizadas, um quinto das crianças sofrem de dislexia, fazendo com que
elas tenham dificuldades no seu aprendizado. A criança disléxica não é menos
inteligente que as outras. Simplesmente algumas delas têm um grau de inteligência
normal ou superior às outras crianças.
Os pais e educadores devem saber que muitas crianças são disléxicas,
portanto precisam ficar atentos aos sinais de dislexia que, às vezes, podem ser
confundidos como mau comportamento, preguiça ou pouca inteligência. A criança
disléxica pode expressar sua frustração exatamente dessa maneira. A dislexia não é
motivo de vergonha para a criança nem para seus pais.
Existem diversos níveis e tipos de dislexia:
- Os níveis podem ser: leve, moderado e severo.
- Os tipos podem ser: Auditiva, Visual, Mista, Disgrafia, Disnomia e Discauculia.
• Auditiva: dificuldades em identificar fonemas.
• Visual: dificuldades em identificar grafemas.
• Mista: são as duas dificuldades.
• Disgrafia: dificuldades com coordenação motora fina.
• Disnomia: dificuldade com a memória imediata.
• Discalculia: dificuldades em fazer cálculos.
Alguns pesquisadores acreditam que pessoas disléxicas têm maior
probabilidade de serem bem sucedidas, pois as dificuldades no inicio da vida escolar
para aprender de uma maneira convencional faz com que estas crianças sejam mais
criativas e desenvolvam uma habilidade maior para lidar com problemas e stress.
As causas da dislexia são neurobiológicas e genéticas. Pesquisadores
acreditam que se a criança que tem disléxica for tratada ainda pequena ela terá muitas
chances de cura.
Para entender melhor a dislexia é importante conhecer o funcionamento do
cérebro. Diferentes partes do cérebro exercem funções especificas. A área esquerda é
a que está diretamente relacionada à linguagem que tem três sub-áreas distintas:
• Uma processa fonemas.
• Outra analisa palavras.
• E a ultima reconhece palavras.
Essas subdivisões funcionam em conjunto possibilitando que o ser humano
aprenda a ler e escrever. O cérebro de disléxicos não funciona dessa forma porque
existe falha de conexões cerebrais. O disléxico, para fazer a leitura, recorre à área que
processa fonemas e, por essa razão ocorre a dificuldade em diferenciar fonemas de
silabas.
Os sintomas da dislexia se apresentam pela:
- demora em aquisições e desenvolvimento da linguagem oral;
- dificuldades de expressão e compreensão,
- dificuldades para organizar seqüências temporais e espaciais,
- dificuldades em ordenar as letras do alfabeto,
- dificuldade em memorizar fatos recentes,
- dificuldade para organizar sua agenda,
- dificuldades para interagir com outras crianças.
Podemos observar que algumas crianças gostam de conversar são curiosas e
falam bem, mas não gostam de ler nem escrever, ou seja, a mesma criança que é
capaz de resolver um problema na oralidade poderá ter dificuldade em resolver na
escrita. Portanto a dificuldade dessa criança não é na aprendizagem da matemática, e
sim na leitura.
A criança disléxica possui uma inabilidade para contar para trás de dois em
dois ou três em três, ela não tem compreensão da ordem e estrutura do sistema
numérico, dificuldade para aprender tabuada.
A dislexia não tem faixa etária tanto uma criança, um jovem, adulto ou idoso
podem ter. Segundo ABD 10% a 15% da população mundial possuem dislexia
independente de raça, classe social, ou grau de instrução.
Na Inglaterra, 45% dos presidiários são disléxicos. No Brasil ainda não temos
dados. Das avaliações feitas na ABD pode-se constatar que a maior parte são homens
(63%) e a menor são mulheres (37%).
A dislexia é um problema de preocupação mundial, por essa razão a mídia
internacional está sempre focalizando os aspectos que envolvem esse distúrbio. No
Brasil a partir do ano dois mil (200) a mídia tem feito diversas reportagens com ABD, a
fim de esclarecer e conscientizar educadores e pais sobre essa questão que causa um
grande sofrimento para as pessoas que tem dislexia.
As instituições Fuvest, Puc, e Mackenzie já reconhecem as necessidades
especiais dos disléxicos e autorizam 25% a mais de tempo para a realização das
provas. O Detran da cidade de Santos já autoriza os disléxicos a fazerem provas
teóricas oralmente.
Os disléxicos já conseguiram algumas conquistas legais, ou seja, leis já
aprovadas tais como: LEGISLAÇAO DE APOIO PARA ATENDIMENO AO DISLÉXICO
LDB 9.394/96.
Lei 8.069, de 13 de julho de 1990 (ECA)
Deliberação CEE-11/96
Indicação CEE nº. 5/98, de-15/4/98.
Parecer CEE 451/98-30/7/98
Parecer CNE/CEB nº 17/2001
Resolução CNE/CEB nº2, de 11 de setembro de 2001.
DECRETO Nº 3.298, DE 20 DE DEZEMRO DE 1999.
“Regulamenta a lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política
Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas
de proteção e dá outras providências.”
DIRETRIZES NACIONAIS PARA A EDUCAÇAO ESPECIAL NA EDUCAÇAO
BÁSICA
PROCESSO Nº: 17/2001-COLEGIADO: CEB-APROVADO EM: 03.07.2001
Conclusão
Um aspecto a ressaltar quanto a essa relação Educação/Saúde,
Saúde/Educação é que embora o currículo oficial para o 1º grau prevê
obrigatoriamente o ensino da saúde (Lei n°. 5692), os cursos de formação de
professores não incluem uma visão crítica de questões elementares de saúde. Logo o
professor sem nenhuma formação básica nessa área é obrigado valer-se do bom
senso para detectar em seus alunos possíveis dificuldades relacionadas com a saúde.
É de ressaltar, ainda, que esse bom senso, muitas vezes, é um conjunto de conceitos
do senso comum nem sempre validado cientificamente. Essa constatação nos leva a
crer que seria de grande importância e beneficio para profissionais da Educação e
principalmente para a população escolar, que houvesse um trabalho conjunto entre
essas duas áreas que possibilite uma visão mais crítica dessas questões, talvez até
formando um corpo específico de conhecimento.
Seria de grande valor que esse trabalho conjunto entre profissionais da
Educação e da Saúde resultasse, por exemplo, em uma avaliação médica mais
completa, levando-se em consideração as características da clientela escolar e as
observações do educador. Isso poderia ocorrer em postos de saúde existentes na
própria comunidade.
É possível observar que muitas das dificuldades de aprendizagem estão
intimamente ligadas às questões de saúde e também pela falta de vontade política,
que acabam gerando este quadro caótico que se encontra a educação brasileira, faz
muito tempo que acontece descaso com a educação. No Brasil existem grandes
pesquisadores que estão no mesmo nível de pesquisadores de países de primeiro
mundo, e por esta e outras razões não é possível compreender o que acontece em
nosso país.
Não dá para falar dos problemas de aprendizagens sem analisar a educação
como um todo, pois existem diversas questões que juntas constroem um modelo de
educação que não evolui, e sim involui.
É preciso, urgentemente, parar e prestar atenção no ser humano, notar que
todas as crianças são maravilhosas, repletas de possibilidades e que apenas querem
ser respeitadas nos seus direitos, direito de ter uma vaga na escola e um emprego
digno no futuro, direito de ter um professor bem preparado não apenas para ensinar a
fazer contas de matemática, mas principalmente ensinar a ser um cidadão pleno com
direitos e deveres.
Foi possível perceber nessa pesquisa que a educação brasileira está muito
doente, mas foi possível notar também que existe cura, que depende de todos nós e
de cada um. Na vida quase sempre não podemos fazer grandes coisas, mas podemos
fazer milhões de pequenas coisas que somadas ao longo do tempo se tornarão uma
grande coisa.
Cabe ao educador a grande missão, de olhar com muita atenção e cuidar com
carinho dessas pequenas plantinhas que um dia poderão ser grandes árvores.
Comentários
No Brasil há algumas pessoas famosas que são disléxicas, mas não assumem.
Ao contrario dos famosos americanos que até empunham bandeira em favor da
luta contra o preconceito e ignorância, que prejudicam muitas vezes toda a vida de
uma pessoa.
Eu acredito que muitas pessoas no mundo que têm dislexia ficam confortadas
ao saberem que famosos como: Tom Cruise, Robin Williams, Bill Gates, Walt Disney
entre outros, que têm dislexia conseguiram ultrapassar a barreira do preconceito e
mostraram que com criatividade, habilidade e talento todos podem vencer até mesmo
quem sofre limitações.
Esses exemplos mostram que se existem muitas maneiras de aprender, então
devem existir também muitas maneiras de ensinar.
O Professor deveria preparar uma boa aula, explicando a matéria com calma,
escolher exemplos bem apropriados, procurar fazer exercícios com conteúdo dividido
em três níveis; fácil, um pouco difícil e mais difícil. Em um determinado dia Fazer
atividades em grupo, em outro em dupla e em outra oportunidade o aluno devera fazer
individualmente. Essas atividades deverão ser feitas sempre com o mesmo conteúdo.
O educador deve possibilitar ao aluno que ele faça perguntas e dê sugestões
,para que juntos possam construir aulas mais interessantes e didáticas. O professor
que observa e ouve os alunos se permite aprender, com quem deseja aprender e
depois poderá ensinar. Ao final de um tema abordado o professor deverá elaborar um
questionário com perguntas referente a maneira que foi dada a aula, dessa forma o
educador vai aperfeiçoar sua didática, ele sempre avaliar um conjunto de aulas que
aborde um determinado tema, assim ao longo do tempo será possível construir uma
didática de ensino, que traga resultados satisfatórios para, educador e educando.
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DISLEXIA AFETA LEITURA, ESCRITA E AUTO-ESTIMA

"Eu queria voltar para a pré-escola." Foi assim que a assessora de comunicação Maria Eugênia Ianhez, 34, reagiu quando descobriu, aos 27 anos, que sofria de dislexia, distúrbio que provoca dificuldades na leitura e na escrita. "Sei que tudo seria diferente. Não passaria pelos constrangimentos que vivi porque saberia como enfrentar minhas limitações. "A dislexia manifesta-se durante a alfabetização, mas nem sempre as escolas conseguem detectar os sintomas do distúrbio. Resultado: assim como Maria Eugênia, milhares de pessoas passam a infância e a adolescência sem conseguir ler um livro até o fim. Pior: sem saber por que isso acontece ou atribuindo a dificuldade à incapacidade intelectual. "O colégio era ruim em todos os momentos, porque eu achava que meu Q.I. era inferior ao normal", lembra Maria Eugênia. O disléxico tem dificuldade para correlacionar sons e sinais gráficos, o que afeta a alfabetização. Não se sabe o que causa a dislexia, mas já foi constatado que esse distúrbio mental - que não deve ser confundido com uma doença- é hereditário e congênito. A incidência difere de acordo com o sexo: para cada três homens disléxicos há só uma mulher. "No disléxico, a "idade" de leitura pode ser até dois anos inferior à idade cronológica", explica Mauro Muszkat, neurologista infantil da Unifesp. Esse déficit se traduz em dificuldade e demora para ler, em letra ruim e erros ortográficos ao escrever: omissão e troca de letras - como "b" por "d" e "m" por "n" (por terem grafias parecidas), ou "s" por "z" e "p" por "b" (pelo som semelhante) - e espelhamento (escrever "los" em vez de "sol"), por exemplo.
Muitas vezes, pais e filhos descobrem simultaneamente que sofrem de dislexia. João Alberto Ianhez, 63, pai de Maria Eugênia, só conseguiu entender suas dificuldades e as da filha quando ele já estava com 50 anos. "Sentia que eu era diferente dos outros, mas não sabia por quê. Na infância, a dificuldade era motivo de gozação e isso provocava retração e timidez", diz. A causa desses problemas foi identificada quando ele fez um trabalho voluntário para a ABD (Associação Brasileira de Dislexia). Em alguns casos, o alerta parte da escola do filho. Quando Felipe Alberto tinha 11 anos, a coordenação pedagógica do colégio onde ele estudava orientou sua mãe, Rosemari Marquetti de Mello, 41, fotógrafa, a procurar a ABD. Conversando com as psicólogas da associação, ela percebeu que apresentava as mesmas dificuldades de leitura e escrita do filho. A partir do diagnóstico, Rosemari procurou incentivá-lo a fazer atividades que lhe proporcionassem prazer e aumentassem sua auto-estima. Felipe, hoje com 16 anos, tem uma banda de rock e toca bateria, guitarra, violão e cavaquinho. "A maior dificuldade do disléxico não é não conseguir ler e escrever, e sim a auto-estima rebaixada", afirma Rosemari.
Não há cura para a dislexia, mas o distúrbio pode ser tratado com a ajuda de fonoaudiólogos e psicoterapeutas. "O tratamento fará com que a pessoa aprenda estratégias para ler mais rapidamente e com prazer", afirma Mauro Spinelli, foniatra (especialista em problemas da linguagem oral e escrita) da PUC-SP. Luis Celso Vilanova, chefe do setor de neurologia da Unifesp, explica que é feito um trabalho de reabilitação. Os especialistas corrigem as dificuldades ortográficas e oferecem outras opções de alfabetização para que a pessoa possa ler e escrever normalmente. Mas, mesmo sem acompanhamento, o disléxico pode criar estratégias para driblar o problema da aprendizagem usando os sentidos da audição, visão e tato, afirma Vilanova. E, na vida adulta, ele pode escolher profissões em que a escrita não seja muito importante. O cirurgião-dentista Adriano van Helden, 37, conseguiu terminar a faculdade usando recursos que ele mesmo desenvolveu. "Eu não conseguia estudar em casa porque tinha de ler o mesmo parágrafo quatro ou cinco vezes para entendê-lo", lembra. Depois de quase desistir do curso, ele descobriu uma saída: "Comecei a repetir em casa, exaustivamente, todos os procedimentos que aprendia nas aulas".Van Helden não sabia que a causa de suas dificuldades era a dislexia. Ele só descobriu que tem o distúrbio há seis meses, quando seu filho de dez anos foi diagnosticado como disléxico. "Percebi que o que ocorre com o meu filho também acontece comigo. "
Segundo a Associação Internacional de Dislexia, o problema afeta de 10% a 15% da população mundial. Os especialistas brasileiros, porém, são mais cautelosos com os números. Mauro Muszkat, da Unifesp, acredita que apenas cerca de 5% da população, em fase escolar, sofra do distúrbio. Já o foniatra Mauro Spinelli estima que esse percentual não seja superior a 1%. Para ele, percentuais maiores são gerados por avaliações menos cuidadosas, que não levam em conta problemas emocionais, auditivos e visuais que também podem gerar dificuldades na alfabetização. Para excluir esses outros fatores, o diagnóstico deve envolver uma equipe multidisciplinar -fonoaudiólogo, psicopedagogo, pediatra, neurologista e psicólogo. A avaliação só pode ser feita após os sete anos, fase em que a criança começa a se alfabetizar e já está madura neurologicamente. Mas, antes disso, na pré-escola, os pais já podem ficar atentos, principalmente se um deles é disléxico: há sinais que indicam se a criança tem propensão a desenvolver o distúrbio.
O que é difícil para a criança disléxica:
* Aprender a escrever: ela separa sílabas ("co migo" no lugar de "comigo"), troca algumas letras e omite outras e não diferencia tempos verbais (confunde as terminações "ão" e "am").
* Memorizar rimas e canções.
* Pronunciar palavras.
* Compreender e memorizar textos.
* Acompanhar a narração de histórias.
* Pintar dentro de linhas delimitadoras.
* Interessar-se por livros.
* Manter a atenção nas aulas.
* Em alguns casos, realizar cálculos. O que sinaliza o distúrbio nos mais velhos.
* Baixa auto-estima.
* Confundir direita e esquerda.
* Dificuldade para aprender outras línguas.
* Falta ou excesso de organização.
* Falha na memória imediata (dificuldade para lembrar informações recebidas recentemente, como o nome de uma pessoa que acabou de conhecer).
* Dificuldade para reproduzir ritmos.
* Dispersão (não consegue concentrar-se em uma atividade, qualquer movimento chama a sua atenção).
* Caligrafia ruim.
* Leitura lenta.
* Temor de ler em público.
* Ao redigir, troca constantemente palavras que não sabe como escrever por sinônimos.


(Folha de S. Paulo) JULIANA DORETTO - FREE-LANCE PARA A FOLHA
material disponivel em: ONDE Associação Brasileira de Dislexia: tels. 0xx/11/3258-7568, 0/xx/11/ 3258-8267 e 0/xx/11/3231-3296; www.dislexia.org.br